Madame Bovary - Cap. 14: VI Pág. 129 / 382

Bispo e ele se... dignou-se achar graça. E o Sr. Doutor, como vai?

Emma parecia não estar a ouvir. O padre continuou:

- Sempre muito ocupado, naturalmente? É que ele e eu somos, com certeza, as duas pessoas que mais têm que fazer cá na paróquia. Mas ele é médico dos corpos, acrescentou, com uma grossa gargalhada; eu sou médico das almas!

Ela fixou no padre um olhar suplicante:

- Sim... O senhor alivia todas as misérias.

- Oh! nem me fale nisso, Sr. Bovary! Ainda esta manhã tive de ir a Bas-Diauville por causa duma vaca que estava inchada; pensavam q era bruxedo. Todas as vacas deles, não sei como... Mas desculpe! Lon guemarre e Boudet! Vamos lá a ver! Querem fazer o favor de acabar com isso?

E, num pulo, correu para a igreja.

Os miúdos apertavam-se em torno do púlpito, trepavam para cima banco do chantre, abriam o missal; outros, em bicos de pés, iam-se haver; turando a entrar mesmo no confessionário. Mas o padre, surgindo subitamente, distribuiu a todos uma saraivada de bofetadas. Pegando-lhes pela gola da jaqueta, suspendia-os do chão e pousava-os de novo com força joelhos nas lajes do coro, como se os quisesse plantar naquela posição.

- Veja bem como os pobres agricultores são dignos de lástima! - disse o padre, depois de voltar para junto de Emma, enquanto desdobra o seu grande lenço de chita, segurando-lhe pela ponta com os dentes.

- Há mais quem seja - respondeu ela.

- Pois com certeza! Os operários das fábricas, por exemplo.

- Não são esses...

- Queira desculpar-me, mas tenho lá conhecido pobres mães de família, mulheres virtuosas, posso garantir, verdadeiras santas, que até de pão passam.

- E aquelas - continuou Emma (que falava contorcendo os cantos da boca) -, aquelas, Sr.





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