Prior, que têm pão e que não têm...
- Lume para se aquecer no Inverno - atalhou o padre.
- Que importa isso?
- Como? Que importa? A mim parece-me que, quando se tem bom aquecimento, boa alimentação... porque, enfim...
- Oh, meu Deus! Meu Deus! - suspirava ela.
- Sente-se mal disposta? - perguntou o padre, aproximando-se começar preocupado. - É naturalmente da digestão, não? Tem de voltar por casa, Srª Bovary; beba um pouco de chá, que lhe fará bem, ou então copo de água fresca com açúcar mascavado.
- Para quê?
E dava a impressão de ter acordado de um sonho.
- É que a vi passar a mão pela testa. Pensei que estivesse a sentir vertigens.
Depois, mudando de assunto:
- Mas a senhora queria perguntar-me qualquer coisa. O que era então?
- Eu? Nada..., nada... - repetiu Emma.
E o seu olhar, que divagava em redor, voltou-se lentamente para o velho de sotaina. Fixaram-se ambos, frente a frente, sem dizer nada.
- Sendo assim, Sr.a Bovary - disse ele por fim -, queira desculpar-
-me, mas o dever acima de tudo, como sabe; tenho de despachar aqueles
Duvidados. Estamos quase na altura das primeiras comunhões e receio que falte o tempo! É por isso que, desde a Ascensão, todas as quartas-feiras faço aguentar mais uma hora. Pobres crianças! Nunca é cedo de mais ara os guiar no caminho do Senhor, como Ele mesmo nos recomendou - boca do Seu Divino Filho... Estimo as suas melhoras; os meus cumprimentos ao senhor seu marido!
E entrou na igreja, fazendo logo à porta a genuflexão.
Emma viu-o desaparecer entre a dupla fila de bancos, andando lentamente, com a cabeça um pouco tombada sobre o ombro e as mãos meio tortas, voltadas para fora.
Ela rodou seguidamente sobre os calcanhares, com um só movimento, numa estátua que girasse sobre um eixo, e tomou o caminho de casa.