Madame Bovary - Cap. 28: V Pág. 296 / 382

Depois, os passageiros da Andorinha acabavam por adormecer, uns com a boca aberta, outros de queixo caído, encostados ao ombro do vizinho ou então com o braço enfiado na correia, oscilando regularmente com o baloiçar do carro; e o reflexo da lanterna que oscilava lá fora por cima garupa dos cavalos, penetrando no interior através das cortinas de chita queles indivíduos imóveis. Emma, atordoada de tristeza, tiritava dentro do seu vestido; e sentia cada vez mais frio nos pés e a morte na alma.

Charles esperava-a em casa; a Andorinha atrasava-se sempre à quinta. -feira, Lá chegava por fim a senhora! Mal beijava a petiza. O jantar não estava pronto. Não tinha importância! Ela desculpava a cozinheira. Tudo agora parecia permitido à rapariga.

Frequentemente, o marido, notando-lhe a palidez, lhe perguntava se ela não estaria doente.

- Não - respondia Emma.

- Mas - replicava ele - acho-te esta noite tão estranha!

- Oh, não é nada! Não é nada!

Havia até dias em que, mal acabava de entrar, subia logo ao quarto; e justin, que ali estava, andava na pontas dos pés, servindo-a com mais habilidade que uma excelente camareira. Punha em ordem os fósforos, o castiçal, um livro, estendia-lhe a camisola, abria-lhe a cama.

- Óptimo - dizia ela -, está bem, vai-te embora!

Porque ele se deixava ficar ali de pé, de braços caídos e olhos arregalados, como que enlaçados por inumeráveis fios dum súbito devaneio.

O dia seguinte era terrível e os outros depois desse mais intoleráveis ainda, pela impaciência que Emma tinha de reaver a felicidade - um ávido desejo, inflamado de imagens conhecidas, que, no sétimo dia, se expandia livremente nas carícias de Léon. Os ardores deste manifestavam-se em expansões de espanto e reconhecimento.





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