Emma saboreava aquele amor dum modo discreto e absorto, encorajava-o por todos os artifícios da sua ternura, receando um pouco vir a perdê-lo mais tarde.
Muitas vezes lhe dizia, com suavidade de voz melancólica:
- Oh!, tu ainda me deixas!... Acabarás por te casar!... Hás-de ser como os outros.
Ele perguntava:
- Que outros?
- Ora, os outros homens - respondia ela.
Depois acrescentava, repelindo-o com um gesto lânguido:
- Vocês são todos infames!
Um dia em que conversavam filosoficamente acerca das desilusões terrenas, ela chegou a dizer (para lhe experimentar o ciúme ou talvez cedendo a uma necessidade demasiado forte de desabafar) que noutros tempo: antes dele, tinha amado alguém, «não como a ti!», acrescentou rapidamente, jurando pela saúde da sua filha que não se tinha passado nada.
O rapaz acreditou, mas, mesmo assim, quis saber o que esse outro fora.
- Era capitão de um navio.
Não seria isso prevenir qualquer investigação e colocar-se ao mesmo tempo num nível bastante alto, por aquela pretensa fascinação exercida sobre um homem que deveria ser de natureza belicosa e acostumado a homenagens?
O escriturário sentiu então a infinidade da sua posição; invejava dragonas, cruzes, títulos. Tudo isso devia agradar a ela: era de calcular, pelos seus hábitos esbanjadores.
No entanto, Emma encobria grande parte das suas extravagâncias, come o desejo de ter, para se transportar a Ruão, um tílburi azul, puxado por um cavalo inglês e conduzido por um cocheiro de botas de canhão. Fora Justin que lhe inspirara esse capricho, suplicando-lhe que o empregasse come seu criado de quarto; e, se aquela privação não atenuava, em cada entrevista, o prazer da chegada, aumentava certamente a amargura do regresse
Muitas vezes, quando conversava sobre Paris, ela acabava por murmurar:
- Ah!, que bom lugar que seria para vivermos!
- Então não somos felizes? - insistia brandamente o rapaz, passando-lhe a mão sobre o cabelo.