«Sou palerma», pensava ele; «naturalmente convidaram-na para jantar em casa do Sr. Lorrneaux.»
A família Lormeaux já não residia em Ruão.
- Se calhar ficou a cuidar da Sr. Dubreuil. Eh!, a senhora Dubreuil já morreu há dez meses!... Onde estará ela então?
Surgiu-lhe uma ideia. Pediu, num café, L’Annuaire e procurou rapidamente o nome da Sr. Lempereur, que morava na Rue de la Rennelle-des-Maroquiniers, n.º 74.
Quando ia a entrar nessa rua, apareceu a própria Emma no outro extremo; atirou-se para ela mais do que a beijou, exclamando:
- Mas quem é que te reteve ontem?
- Estive doente.
- De quê?.. Onde?.. Como foi?..
Ela passou a mão pela testa e respondeu:
- Em casa da Sr. Lempereur.
- Tinha a certeza de que lá estavas. Ia lá agora.
- Oh!, não vale a pena - disse Emma. -Ela saiu mesmo há pouco; mas de futuro mantém a calma. Não me posso sentir livre, compreendes?, se souber que o menor atraso te perturba dessa maneira.
Era uma espécie de autorização que dava a si própria para se sentir à vontade nas suas escapadelas. Por isso tratou de se aproveitar dela o mais que pôde. Quando lhe dava na gana ir ver Léon, saía a qualquer pretexto e, como ele não a esperava nesse dia, ia procurá-lo ao cartório.
Nas primeiras vezes foi uma grande alegria; mas, pouco tempo depois, deixou de lhe esconder a verdade, a qual era que o patrão se queixava extremamente daqueles transtornos.
- Deixa lá isso! Vem daí - dizia ela. E ele escapava-se.
Emma quis que ele se vestisse todo de preto e deixasse crescer a barba na ponta do queixo, para se parecer com os retratos de Luís XIII. Teve desejo de lhe ver o aposento e achou-o medíocre; ele corou com isso, mas ela não notou e depois aconselhou-o a comprar umas cortinas iguais às suas, e, como ele objectou que eram dispendiosas, disse-lhe a rir:
- Ah!, Ah! Es tão agarrado aos teus escudinhos!
Exigia que Léon, todas as vezes, lhe relatasse toda a sua conduta, desde o último encontro.