Madame Bovary - Cap. 9: IX Pág. 78 / 382

Custava muito a Charles abandonar Tostes depois de quatro anos de permanência e no momento em que começava a sentir-se instalado. No entanto, se fosse necessário!. " Levou-a a Ruão para ser vista por um seu antigo professor. Era uma doença nervosa: era preciso fazê-la mudar de ares.

Depois de muitas indagações, Charles soube que na circunscrição de Neufchâtel havia uma povoação bastante grande chamada Yonville-lAbbaye, cujo médico, um antigo refugiado polaco, desertara uma semana antes. Escreveu então ao farmacêutico do lugar para saber o número de habitantes, a que distância se encontrava o colega mais próximo, quanto ganhava anualmente o seu predecessor, etc.; e, tendo as respostas sido satisfatórias, resolveu mudar-se pela Primavera, se a saúde de Emma não melhorasse.

Um dia em que, nos preparativos para a mudança, ela arrumava uma gaveta, picou os dedos em qualquer coisa. Era um arame do ramo de flores o seu casamento. Os botões de laranjeira estavam amarelos do pó e as fitas de cetim, de orlas prateadas, desfiavam-se pelos bordos. Atirou-o para a lareira. Ardeu mais rapidamente que uma palha seca. Depois parecia um arbusto vermelho sobre as cinzas, consumindo-se lentamente. Ficou a vê-lo arder. As pequenas bagas de papelão estoiravam, os arames contorciam-se, a franja derretia-se; e as corolas de papel, retorcidas, baloiçando ao longo da pedra como borboletas negras, voaram finalmente pela chaminé.

Quando saíram de Tostes, no mês de Março, a Srª Bovary ia grávida.





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