Como Charles tinha de atender os seus clientes, foi Emma quem lhe fez companhia. Ele fumou no quarto, cuspiu sobre a pedra da chaminé, falou de agricultura, de bezerros, de vacas, de aves e do conselho municipal; a tal ponto que, quando se foi embora, Emma fechou a porta com um sentimento de alívio que a surpreendeu a ela própria. Aliás, ela já não escondia o seu desprezo por tudo e por todos; e punha-se muitas vezes a exprimir opiniões extravagantes, condenando o que os outros aprovavam e aprovando coisas perversas ou imorais, o que fazia o marido arregalar muito os olhos.
Seria que aquela miséria duraria para sempre? Não haveria maneira de lhe fugir? Contudo, ela achava que valia tanto como as outras que viviam felizes! Vira em Vaubyessard duquesas com a cintura mais grossa e os modos mais vulgares e vociferava contra a justiça de Deus; encostava a cabeça às paredes para chorar; invejava as existências tumultuosas, as noites de máscaras, os prazeres insolentes com todos os delírios que deviam provocar o que ela não conhecia.
Emma empalidecia e tinha palpitações no coração. Charles deu-lhe valeriana e banhos de cânfora. Tudo quanto se experimentasse parecia irritá-la ainda mais.
Em certos dias tagarelava com uma verbosidade febril; a essas exaltações seguiam-se repentinamente torpores durante os quais não falava nem se mexia. O que a reanimava, nessas ocasiões, era espalhar-lhe sobre os braços um frasco de água-de-colópia.
Como se queixava continuamente de Tostes, Charles imaginou que a causa da doença devia estar com certeza nalguma influência local e, fixando-se nessa ideia, pensou seriamente em ir estabelecer-se noutro sítio.
A partir daí, ela começou a beber vinagre para emagrecer, contraiu uma tossezinha seca e perdeu completamente o apetite.