A Ilha Misteriosa - Cap. 21: CAPÍTULO III Pág. 137 / 186

Este problema deu, aliás, origem a aceso debate entre os colonos. Cyrus Smith perfilhava a tese humanista de que os homens podiam ser regenerados, não só por terem assistido ao fim dramático dos companheiros, mas também porque estariam em situação de fraqueza, isolados e entregues a eles mesmos. Todos concordaram que valia a pena tentar, à excepção de Pencroff, que, muito casmurro, nem queria saber do exemplo do arrependimento de Ayrton. Teve, contudo, de aceitar a vontade da maioria, mas não deixou de dizer:

- Seja como quiserem! Por mim, abatia cada um daqueles malandros como se fosse um animal selvagem! Só peço a Deus que ninguém se arrependa da decisão.

Dentro em breve, se saberia quem tinha razão. A orientação era de não se abrir fogo, a não ser que fossem atacados.

Na madrugada seguinte, dia 9 de Novembro, Ayrton partiu para o curral, com a recomendação de enviar uma mensagem telegráfica a informar da situação para aqueles lados. Caso tudo corresse normalmente, estaria de volta a 11, para a expedição. A seguir foi a vez da pequena patrulha se pôr em marcha para sul. Nab acompanhou Spilett, Pencroff e Harbert até à margem do Mercy, a fim de voltar a levantar a ponte, depois de eles passarem. Ficou combinado que, no regresso, disparariam um tiro de aviso e o jovem negro viria recolocar a ponte.

Assim que chegaram à margem direita do rio, os três amigos tomaram a estrada que ia directamente ao porto do Balão, observando atentamente quer a orla do pântano dos Tadornos, à esquerda, quer a orla da floresta, à direita. Em lado algum se aperceberam de qualquer sinal da passagem dos piratas, que deviam estar escondidos mais para o interior da ilha. À conta das buscas, demoraram duas horas a percorrer os quase cinco quilómetros do trajecto, mas, à chegada, o marinheiro teve a alegria de avistar o Boaventura tranquilamente fundeado no porto da pequena enseada.





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