A Rosa do Adro - Cap. 4: CAPÍTULO 4 Pág. 13 / 202

Sem amor não há viver.

A Rosa do Adro, pois era ela que, segundo o seu costume, trabalhava, junto da janela, embalsamando de contínuo os ares com a fragância dos seus cantos, ao ouvir resposta tão adequada e proferida por voz para ela estranha, debruçou-se um pouco sobre o peitoril, e, ao avistar Fernando, que caminhava risonho para aquele sítio, soltou uma desenvolta gargalhada, exclamando ao mesmo tempo:

- O Sr. Fernandinho... Ora esta!

- Eu mesmo, minha flor; pensas que só tu sabes coisas bonitas?

Fernando chegara em frente da janela, sobre a qual se reclinava a alegre rapariga, e, levando graciosamente a mão à aba do chapéu, continuou:

- Boas-tardes, Rosa.

- Salve-o Deus, Sr. Fernandinho - respondeu ela.

- Então que tal achas as minhas cantigas?

- Oh, muito lindas, muito lindas; estava quase capaz de o desafiar para a primeira esfolhada que por cá houvesse.

- E eu estou pronto a aceitar com o maior gosto o torneio.

- Pois na verdade atrever-se-ia...

- E porque não?

- Ainda assim, Deus me defendesse de tal; estava bem servida se fosse cantar consigo ao desafio... O Sr. Fernandinho, que tanto sabe... Eu decididamente ficava mal.

- Ficarias ou não; mas vamos a saber: estás pelo contrato?

- Qual contrato?

- Pelo das cantigas que há pouco trocámos?

Rosa, a esta inesperada pergunta, estremeceu involuntariamente, e um leve rubor lhe coloriu as faces; depois, encarando em Fernando um olhar sedutor, exclamou com essa franqueza tão característica, às vezes, nas filhas do povo:

- À fé de quem sou, lhe juro, Fernandinho, que, se o senhor fosse tão pobre como eu, aceitava...

- Então gostas de mim, Rosa?

- O senhor nunca me deu motivos para o contrário - respondeu a rapariga, baixando modestamente os olhos, como se aquela resposta a embaraçasse.





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