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Capítulo 3: Capítulo 3

Página 11

As cenas de dissolução social que naquele tempo se representavam na Península eram capazes de despertar a indignação mais veemente em todos os ânimos que ainda conservavam um diminuto vestígio do antigo carácter godo. Desde que Eurico trocara o gardingato pelo sacerdócio, os ódios civis, as ambições, a ousadia dos bandos e a corrupção dos costumes haviam feito incríveis progressos. Nas solidões do Calpe tinha reboado a desastrada morte de Vitiza, a entronização violenta de Roderico e as conspirações que ameaçavam rebentar por toda a parte e que a muito custo o novo monarca ia afogando em sangue. Ebas e Sisebuto, filhos de Vitiza, Opas, seu tio, sucessor de Siseberto na Sé de Híspalis, e Juliano, conde dos domínios espanhóis nas costas de África, do outro lado do Estreito, eram os cabeças dos conspiradores. Unicamente o povo conservava ainda alguma virtude, a qual, semelhante ao líquido transvasado por cendal delgado e gasto, escoara inteiramente através das classes superiores. Oprimido, todavia, por muitos géneros de violências, esmagado debaixo dos pés dos grandes que lutavam, descrera por fim da pátria, tornando-se indiferente e covarde, prestes a sacrificar a sua existência colectiva à paz individual e doméstica. A força moral da nação tinha, portanto, desaparecido, e a força material era apenas um fantasma; porque debaixo das lorigas dos cavaleiros e dos saios dos peões das hastes não havia senão ânimos gelados, que não podiam aquecer-se ao fogo do santo amor da terra natal.

Com a profunda inteligência de poeta, o presbítero contemplava este horrível espectáculo de uma nação cadáver e, longe do bafo empestado das paixões mesquinhas e torpes daquela geração degenerada, ou derramava sobre o pergaminho em torrentes de fel, de ironia e de cólera a amargura que lhe trasbordava do coração ou, recordando-se dos tempos em que era feliz porque tinha esperança, escrevia com lágrimas os hinos de amor e de saudade. Das elegias tremendas do presbítero alguns fragmentos que duraram até hoje diziam assim:

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pág. 11 (Capítulo 3)

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Capa do livro Eurico, o Presbítero
Páginas: 186
Página atual: 11

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 4
Capítulo 3 7
Capítulo 4 12
Capítulo 5 18
Capítulo 6 22
Capítulo 7 28
Capítulo 8 32
Capítulo 9 46
Capítulo 10 55
Capítulo 11 63
Capítulo 12 71
Capítulo 13 90
Capítulo 14 105
Capítulo 15 121
Capítulo 16 134
Capítulo 17 148
Capítulo 18 158
Capítulo 19 171
Capítulo 20 176