O Retrato de Ricardina - Cap. 27: CAPÍTULO XXVII - O RETRATO DE RICARDINA Pág. 168 / 178

.. Quer ver?

E levou-lhe o retrato, inclinando-se a mostrar-lho à mais conveniente luz.

Ricardina levantou-se de golpe, e despediu um grito estrídulo.

- Que é? - exclamaram os dois.

- Meus Deus! - bradou Ricardina. - Este retrato... é o meu... é o retrato que o teu pai me tirou em Coimbra! É o que ele levou, quando se despediu de mim para sempre... Onde achaste, meu filho, onde estava este retrato?

Alexandre mantinha-se estupefacto a olhar para a mãe. Não respondia, não pestanejava. Parara-lhe a vida.

- Que tens, Alexandre? - acudiu a viscondessa. Que tens, meu filho? Estás a perder a cor!... Pois como te veio à mão este retrato?... Achaste-o a vender, ou como foi?

A última pergunta de Matilde foi luz e ordem no caos das suas ideias. Deteve instantes a resposta e disse:

- Comprei-o.

Quando proferiu a palavra, o seu íntimo pensamento era pensar no modo de salvar a mãe, dando-lhe esperanças de estar vivo Bernardo Moniz, esperanças que podiam ser falsas, e talvez fulminá-la de alegria sendo verdadeiras.

- Está bem certa que esse retrato é seu, minha mãe? - instou ele.

- Certíssima, filho! Pois poderia eu enganar-me tendo-o tido tantas vezes na minha mão?... Como viria este retrato parar a Lisboa? Foi por força tirado do pescoço do teu pai por algum dos matadores.

- Vou indagar isso, minha mãe; dá-me o retrato, Matilde.

- Não dou. Compra-o por tudo quanto quiseres.

- Compro, filha; mas é necessário que eu o leve.

- Olha lá... se o não trazes, fico triste!

Pouco depois, Alexandre entrava no quarto de Bernardo Moniz. Estava Norberto ministrando-lhe a tisana quinada. O filho de Ricardina encarou o doente com os olhos revendo lágrimas. Bernardo notou os sinais compadecidos daquele olhar, e disse:

- Vejo que o retrato motivou a piedade das senhoras, na qual Vossa Excelência tomou parte.





Os capítulos deste livro