- Morreu?
- Há vinte e quatro anos.
- É uma maravilha! Se tal rosto não tivesse existido, geria ainda um primor de beleza artística. Era português, o pintor?
- Era português.
- Viverá ainda?
- Morreu.
- Quanto eu daria por encontrar artista que retratasse com este esmero a minha mãe e a minha mulher! Vossa Senhoria faz-me a fineza de consentir que Matilde veja este retrato?
- Pois não!
- Hoje mesmo lho restituo. Prometo-lhe que há de ser curto quanto possa ser o tempo da saudade.
- Quando Vossa Excelência quiser. Eu tenho-a no coração.
- Até logo.
Alexandre chegou a casa. Matilde estava tocando piano.
D. Ricardina, sentada num a poltrona, escutava a música triste de Bellini, com os olhos na sobrinha e o coração nos dias dos seus 18 anos. Entrou Alexandre na saleta. A viscondessa levantou-se a beijá-lo, e ele foi beijar a mão da sua mãe. Depois sentou-se, e disse com a mais cómica seriedade:
- Matilde, amei-te muito, e julguei que te amaria sempre, por me parecer que não encontraria mulher mais bela do que és. Achei-a fatalmente. Rompeu-se o encanto. Tudo isto se desfaz em fumo como os paços lindos da amorosa D. Branca do Garrett. Acabou o teu domínio. Não vou resgatar o império sarraceno como o príncipe árabe do poema; mas vou-me aos braços de mais formosa Armida. Para justificação minha, perante Céu, Terra e Inferno, e principalmente perante ti, minha infeliz esposa, aqui tens o retrato da tua vencedora rival!
Matilde, rindo às gargalhadas da declamação do marido, pegou na medalha, olhou-a, e exclamou:
- Realmente é formosa! Isso é! Que mulher é esta?!
D. Ricardina, que também rira muito, disse lá da sua cadeira:
- Mais formosa do que tu, Matilde?
- Não há comparação, minha tia.