.. Já este meu velho me estava dizendo que era mau agouro deixar eu sair o retrato do meu pescoço...
Alexandre inclinou-se ao ouvido do doente e disse-lhe:
- Pode mandar sair este homem por algum tempo?
- Sim, senhor... Sai, Norberto.
- Espere! - exclamou Alexandre, suspendendo a saída do velho. - Chama-se este homem Norberto Calvo?
- Sim, chama; como sabe Vossa Excelência?
- Então que fique. - E inclinando-se sobre o seio de Bernardo, continuou: - Responda, peço-lhe com as mãos erguidas, responda verdade às perguntas que vou fazer-lhe. Promete-mo com juramento feito sobre a sua honra? Não haverá impedimento algum que lhe embarace o responder-me?
- Nenhum.
- Jurou, senhor?
- Pela minha honra.
- Este retrato é de Ricardina?
- É:... mas... o Sr. Alexandre.
- O senhor chama-se Bernardo Moniz?... Não hesite, por piedade lho peço. Não duvide responder-me.
- Sou Bernardo Moniz.
- É!
- Sou, sou Bernardo Moniz!
Alexandre abraçou-o impetuosamente, e exclamou:
- Quem poderá ser este homem que o abraça?
- Um amigo que Deus me enviou...
- Pois estas lágrimas!... Não vê que choro, meu pai?
E escondeu no seio a face soluçante.
- Que disse ele?! - perguntava Bernardo a Norberto, ofegando em ansiosos arquejos.
O velho não soube dar melhor conta do seu ouvido e entendimento. Achegou-se mais de perto, e murmurou:
- Eu... parece que ouvi dizer...
Alexandre Pimentel levantou a cabeça, tomou as mãos do pai, beijou-as, acariciou-as, e repetiu:
- Sou seu filho. Sou filho de Ricardina. Nasci quando minha mãe o considerava morto. A minha mãe é viva.
Conclamaram, a um tempo, Bernardo e Norberto dois grandes brados, abraçando-se conjuntamente em Alexandre.
- Ricardina é viva! - exclamou Moniz.