O Retrato de Ricardina - Cap. 9: CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM! Pág. 54 / 178

Sucedeu à visita da apresentação a da despedida. Iam ambos para a Beira. Isto nem levemente insinuou desconfianças em Ricardina. Mas, passados dias, recebeu ela, incluída na carta do pai, uma do seu primo Gaspar, recheada de galantarias e devaneios de um coração amante. O abade pelo seu lado, confirmando à filha o conteúdo epistolar do sobrinho, significava-lhe o desejo e a deliberação feita de a ir buscar ao convento para os casar, logo que a dispensa viesse da nunciatura.

Foi embate que desvairou o espírito sereno de Ricardina, tão forte e discreta em mais apertados conflitos! Revelou a Bernardo as desventuras sobrevindas quando começava a criar esperanças; pedia-lhe que a não julgasse capaz de faltar à sua palavra. E dado que o pai a quisesse tirar do mosteiro não sairia; e, se a prelada e o bispo a mandassem obedecer, então fugiria para onde o esposo da sua alma quisesse. Explosão de fogo que o cegou! Não precisava o académico de outro aviso. Dispensa-se de esperar que as condições estipuladas se realizem. Rasga com jubiloso delírio o véu do segredo aos seus irmãos. Não os consulta nem quer conselhos. Comunica-lhes a sua felicidade e agasta-se porque os vê melancólicos. O médico receia resultados funestos; o teólogo acha imoral o feito da fuga e abominável a profanação do mosteiro. Refuta-os o jurista: ao primeiro impugna com o mistério em que há de ficar o destino e paragem de Ricardina; ao teólogo apoda-o de ignorar o que seja profanação, não pensando ele em pôr pés debaixo dos tetos sagrados da clausura.

Procura o condiscípulo confidente das cartas. Pede-lhe fervorosamente proteção como se nisso lhe fosse a vida. Consegue senhorear-se de uma quinta convizinha de Lamego, onde o amigo tem caseiros. Ao mesmo tempo circunvaga nos arrabaldes de Coimbra em pesquisa de uma casa bem insulada, e cingida de arvoredos.





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