À notícia da morte de Clementina, seguiu-se o silêncio de duas, semanas, bem que a freira, escrevendo ao irmão, lhe pedia, que explicasse ao seu amigo o silêncio de Ricardina, forçado pela doença e mais ainda pela incessante companhia das religiosas, que se revezavam ao pé dela, noite e dia.
Prosseguiu a correspondência depois com a mesma regularidade. Os sentimentos da noviça eram já diversos quanto a professar. Tinham feito grande abalo no seu ânimo as derradeiras palavras da mãe: “espera” quando acabava de louvar o exaltado amor de Bernardo. Facilmente pensou a filha que vinham inspiradas do Céu as ordens da moribunda, santificada por vinte anos de secretas angústias, a tempo que todos a julgavam tão criminosa quanto feliz. Deliberada, pois, a protrair os votos, enquanto, pudesse. Ricardina referiu a Bernardo as palavras da mãe e a promessa de ir rogar a Deus que os unisse. Reanimou-se o académico.
No princípio de Fevereiro daquele ano de 1828, o abade de Espinho passou em Lamego, caminho de Amarante, onde tinha o irmão morgado. Procurou a filha, disse-lhe benignamente que lhe perdoava os desgostos recebidos por causa dela, e contou que ia espairecer com o seu irmão, por sentir-se morrer na solitária residência da abadia. No objeto da profissão disse que o mundo ainda podia dar muitas voltas. Ricardina decifrou do misterioso destas possíveis voltas do mundo que o seu pai se ia amolecendo a favor de Bernardo, quer por eficácia das orações da sua mãe, quer por se ter desavindo com Eugénia. Assim o comunicou a esperançada menina ao estudante.
Corridos quinze dias, voltou de Amarante o padre, acompanhado de um sobrinho, filho segundo do seu irmão. Chegados a Lamego, seguiram para o convento. O abade apresentou à filha seu primo Gaspar Botelho de Queirós, que ela ainda se lembrava de ter visto na infância em Espinho.