A Origem das Espécies - Cap. 2: CAPÍTULO I
VARIAÇÃO SOB DOMESTICAÇÃO Pág. 10 / 524

Poder-se-ia apresentar facilmente uma longa lista de «plantas anómalas»; por este termo, os jardineiros entendem um único botão ou rebento, que subitamente adquire um carácter novo e por vezes muito diferente do carácter do resto da planta. Pode-se propagar esses botões através de enxertos, etc., e por vezes através de sementes. Estas «anomalias» são extremamente raras em estado natural, mas nada raras no caso das plantas cultivadas; e, neste caso, vemos que o tratamento da progenitora afectou um botão ou rebento e não os óvulos ou o pólen. Mas maioritariamente os fisiólogos são da opinião de que não há uma diferença essencial entre um botão e um óvulo nas suas primeiras etapas de formação; pelo que, na verdade, as «anomalias» sustentam a minha perspectiva, de que se pode em grande medida atribuir a variabilidade aos óvulos ou ao pólen, ou a ambos, tendo sido afectados pelo tratamento da progenitor a antes do acto da concepção. Estes casos mostram de uma maneira ou de outra que a variação não está necessariamente ligada, como supõem alguns autores, ao acto da geração.

As plantas jovens provindas do mesmo fruto e as crias da mesma ninhada por vezes diferem consideravelmente entre si, embora as crias e os pais, como observou Müller, tenham, ao que parece, sido expostas exactamente às mesmas condições de vida; e isto mostra como são pouco importantes os efeitos directos das condições de vida, por comparação com as leis da reprodução, do crescimento e da hereditariedade; pois se a acção das condições tivesse sido directa, se qualquer uma das crias tivesse variado, todas provavelmente teriam variado da mesma maneira. Avaliar, no caso de qualquer variação, quanto se deve atribuir à acção directa do calor, humidade, luz, alimentação, etc.





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