A Origem das Espécies - Cap. 2: CAPÍTULO I
VARIAÇÃO SOB DOMESTICAÇÃO Pág. 11 / 524

, é dificílimo: parece-me que nos animais tais acções produziram pouquíssimos efeitos directos, embora aparentemente mais no caso das plantas. Deste ponto de vista, as recentes experiências que o Sr. Buckman fez com plantas parecem extremamente valiosas. Quando todos ou quase todos os indivíduos expostos a certas condições são afectados da mesma maneira, parece que à partida a mudança se deve directamente a tais condições; mas nalguns casos pode-se mostrar que condições completamente opostas produzem mudanças de estrutura similares. Não obstante, penso que uma ligeira quantidade de mudança é atribuível à acção directa das condições de vida - como se atribui, nalguns casos, o aumento de tamanho à quantidade de alimentos, a coloração a certo tipo de alimentos e à luz, e talvez a espessura do pêlo ao clima.

O hábito tem também uma influência inequívoca, como no período de floração nas plantas, quando transportadas de um clima para outro. Nos animais tem um efeito mais marcado; por exemplo, verifico que no pato doméstico os ossos da asa pesam menos e os ossos da perna pesam mais, proporcionalmente a todo o esqueleto, do que os mesmos ossos no pato selvagem; e presumo que se pode atribuir seguramente esta mudança ao facto de o pato doméstico voar muito menos e caminhar mais do que o seu antecessor selvagem. O enorme desenvolvimento hereditário dos úberes nas vacas e cabras, em regiões onde a sua ordenha é habitual, por comparação ao estado destes órgãos noutras regiões, é outro exemplo do efeito do uso. Não se pode nomear um único animal doméstico que não tenha, numa região qualquer, orelhas descaídas; e a perspectiva sugerida por alguns autores de que o descaimento se deve ao desuso dos músculos da orelha, por causa de os animais não se alarmarem muito com o perigo, parece plausível.





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