A Origem das Espécies - Cap. 5: CAPÍTULO IV
SELECÇÃO NATURAL Pág. 100 / 524

Mesmo sem qualquer mudança na proporção numérica dos animais caçados pelo nosso lobo, poderia nascer uma cria com uma tendência inata para perseguir certos tipos de presa. Tão-pouco se pode considerar que isto é muito improvável; pois observamos muitas vezes diferenças consideráveis nas tendências naturais dos nossos animais domésticos; um gato, por exemplo, propenso a caçar ratazanas, outro a caçar ratos; um gato, segundo o Sr. St. John, propenso a levar para casa aves, outro lebres ou coelhos, outro ainda propenso a caçar em terreno pantanoso, quase todas as noites, galinholas e narcejas. Sabe-se que a tendência para caçar ratazanas em vez de ratos é hereditária. Ora, se qualquer ligeira mudança inata de hábitos ou estrutura favorecesse um lobo individual, este teria maior probabilidade de sobreviver e de deixar prole. Algumas das suas crias herdariam provavelmente os mesmos hábitos ou estrutura, e, pela repetição deste processo, poder-se-ia formar uma nova variedade que ou suplantaria ou coexistiria com a forma antecessora do lobo. Ou, mais uma vez, os lobos que habitam uma região montanhosa, e os que frequentam as planícies, seriam naturalmente forçados a caçar presas diferentes; e da preservação contínua dos indivíduos mais bem adaptados aos dois sítios poder-se-iam formar lentamente duas variedades. Estas variedades cruzar-se-iam, misturando-se, nos locais onde ambas se encontrassem; mas teremos de regressar em breve a este tema do entrecruzamento. Posso acrescentar que, segundo o Sr. Pierce, duas variedades do lobo habitam as Montanhas Catskill nos Estados Unidos, uma com uma ligeira forma de galgo, que persegue veados, a outra mais corpulenta, com pernas mais curtas, que ataca com maior frequência os rebanhos dos pastores.





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