A Origem das Espécies - Cap. 5: CAPÍTULO IV
SELECÇÃO NATURAL Pág. 102 / 524

a sua destruição parece uma simples perda para a planta; porém, se um pouco de pólen fosse transportado, a início ocasionalmente e depois por hábito, de flor para flor pelos insectos polinívoros, realizando-se assim um cruzamento, embora fossem destruídos nove décimos do pólen, poderia ainda assim ser uma grande vantagem para a planta; e os indivíduos que produzissem mais pólen e tivessem anteras maiores seriam seleccionados.

Quando através deste processo de preservação contínua ou de selecção natural das flores mais atraentes a nossa planta se tornasse muito atraente para os insectos, estes passariam, de forma não intencional, a transportar regularmente o pólen de flor para flor; e eu poderia facilmente mostrar, através de muitos exemplos impressionantes, que podem fazer isto de uma maneira muitíssimo eficaz. Darei apenas um exemplo - não por ser muito impressionante, mas por ilustrar analogamente uma etapa na separação dos sexos das plantas, a que presentemente aludimos. Alguns azevinhos só dão flores masculinas, tendo quatro estames que produzem apenas uma quantidade limitada de pólen e um pistilo rudimentar; outros azevinhos dão apenas flores femininas; estas têm um pistilo de dimensões normais e quatro estames com anteras rugosas, nas quais não se detecta um grão de pólen. Tendo encontrado uma árvore fêmea exactamente a 55 metros de uma árvore macho, coloquei sob o microscópio os estigmas de 20 flores colhidas em ramos diferentes e em todas, sem excepção, havia grãos de pólen, e em algumas uma grande quantidade. Como durante vários dias o vento soprara da árvore fêmea para a árvore macho, o pólen não podia ter sido transportado assim. O clima estivera frio e agreste e portanto não era favorável às abelhas, ainda que cada flor feminina que examinei tivesse sido efectivamente fertilizada pelas abelhas, acidentalmente polvilhadas com pólen, ao voar de árvore para árvore em busca de néctar.





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