A Origem das Espécies - Cap. 5: CAPÍTULO IV
SELECÇÃO NATURAL Pág. 106 / 524

Mas há ainda muitos animais hermafroditas que certamente não acasalam por hábito, e uma vasta maioria de plantas são hermafroditas. Que razões temos, perguntar-se-á, para supor nestes casos que a reprodução envolve sempre a cooperação de dois animais? Dada a impossibilidade de entrar aqui em detalhes, tenho de me limitar a algumas considerações gerais apenas.

Em primeiro lugar, recolhi um conjunto bastante vasto de factos que mostram, conforme a crença quase universal dos criadores, que nos animais e nas plantas um cruzamento entre diferentes variedades, ou entre indivíduos da mesma variedade mas de linhagens diferentes, confere vigor e fertilidade à prole; e, por outro lado, que um cruzamento consanguíneo próximo diminui o vigor e a fertilidade; que só estes factos me dispõem a acreditar que corresponde a uma lei geral da natureza (por muito completamente ignorantes que sejamos acerca do significado dessa lei) o facto de nenhum ser orgânico se autofertilizar durante uma eternidade de gerações; mas que um cruzamento com outro indivíduo é aqui e ali - talvez com intervalos bastante longos - indispensável.

Com base na crença de que se trata de uma lei da natureza, podemos, segundo creio, compreender diversas classes numerosas de factos, tais como a que se segue, que são inexplicáveis sob qualquer outra perspectiva. Todo o hibridizador sabe como a exposição à humidade é desfavorável à fertilização de uma flor, porém quantas multidões de flores têm as suas anteras e estigmas completamente expostas ao clima! Mas se um cruzamento ocasional é indispensável, a mais plena liberdade para a entrada do pólen de outro indivíduo explicará este estado de exposição, sobretudo na medida em que as anteras e o pistilo da própria planta se encontram em geral tão próximos que a autofertilização parece quase inevitável.





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