A Origem das Espécies - Cap. 5: CAPÍTULO IV
SELECÇÃO NATURAL Pág. 121 / 524

pela existência que são as formas mais intimamente próximas - variedades da mesma espécie e espécies do mesmo género ou de géneros relacionados -, que, por terem praticamente a mesma estrutura, constituição e hábitos, competem em geral de uma maneira muitíssimo severa. Consequentemente, cada nova variedade ou espécie, durante o seu processo de formação, exercerá geralmente uma pressão intensa sobre os seus semelhantes mais próximos e tenderá a exterminá-los. Observamos o mesmo processo de extermínio entre as nossas produções domésticas, através da selecção de formas aperfeiçoadas pelo homem. Poder-se-ia apresentar muitos exemplos curiosos, mostrando quão rapidamente as novas linhagens de gado bovino, ovelhas, outros animais, variedades de flores, tomam o lugar de tipos mais antigos e inferiores. No Yorkshire, o antigo gado bovino negro foi substituído pelos cornilongos e estes «foram dizimados pelos cornicurtos» (cito as palavras de um autor agrícola), «como se por uma epidemia assassina».

Divergência de Carácter. - Designei com este termo um princípio muito importante para a minha teoria e que explica, segundo creio, muitos factos importantes. Em primeiro lugar, as variedades, mesmo as fortemente marcadas, ainda que tenham algo do carácter de espécies - como se mostra pelas dúvidas insolúveis, em muitos casos, acerca do modo de as classificar -, diferem decerto muito menos entre si do que sucede nas espécies genuínas e distintas. Não obstante, segundo o meu ponto de vista, as variedades são espécies em processo de formação, ou, como lhes chamei, «espécies incipientes», Como, portanto, é que a diferença menor entre variedades se amplia, tornando-se na diferença maior entre espécies? Que isto de facto sucede habitualmente,





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