A Origem das Espécies - Cap. 5: CAPÍTULO IV
SELECÇÃO NATURAL Pág. 122 / 524

temos de o inferir pelo facto de na sua maioria as inumeráveis espécies em todo o mundo natural apresentarem diferenças bem marcadas; ao passo que as variedades, os supostos protótipos e antecessoras das futuras espécies bem marca das, apresentam diferenças ligeiras e pouco definidas. O mero acaso, como se lhe pode chamar, poderia fazer uma variedade diferir das suas antecessoras em algum carácter, fazendo por sua vez a prole desta variedade diferir da sua antecessora precisamente no mesmo carácter e em maior grau; mas só isto nunca explicaria uma tão grande e habitual quantidade de diferença como a que há entre as variedades da mesma espécie e as espécies do mesmo género.

Como foi sempre meu hábito, procuremos esclarecimento acerca deste assunto a partir das nossas produções domésticas. Aqui encontraremos algo análogo. Um criador surpreende-se com um pombo que tenha o bico mais curto; outro criador surpreende-se com um pombo cujo bico é bastante longo; e com base no princípio reconhecido de que «os criadores não admiram e não admirarão um padrão mediano, mas gostam de extremos», ambos os criadores passam (como efectivamente aconteceu com os pombos-cambalhota) a escolher e a fazer criação a partir de aves com bicos cada vez mais longos, ou com bicos cada vez mais curtos. Mais uma vez, podemos supor que, num período anterior, um homem tinha preferência por cavalos mais rápidos; outro preferia cavalos mais fortes e robustos. As diferenças iniciais seriam muito ligeiras; ao longo do tempo, através da selecção contínua dos cavalos mais velozes por alguns criadores e dos mais fortes por outros, as diferenças tornar-se-iam maiores e seriam percepcionadas como a formação de duas sub-linhagens; por fim, ao cabo de séculos, as sub-linhagens converter-se-iam em duas linhagens bem estabelecidas e distintas.





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