A Origem das Espécies - Cap. 5: CAPÍTULO IV
SELECÇÃO NATURAL Pág. 123 / 524

À medida que as diferenças aumentam lentamente, os animais inferiores com caracteres intermédios, nem muito rápidos nem muito fortes, terão sido descurados, tendendo a desaparecer. Aqui, portanto, observamos nas produções do homem a acção daquilo a que se pode chamar o «princípio da divergência», fazendo com que diferenças a princípio dificilmente apreciáveis aumentem a um ritmo estável e que as linhagens divirjam em carácter, tanto umas das outras como da sua antecessora comum.

Mas como, perguntar-se-á, pode qualquer princípio análogo aplicar-se na natureza? Creio que pode e que de facto se aplica eficientissimamente, pela simples circunstância de que quanto mais os descendentes de qualquer espécie se tornam diversificados em estrutura, constituição e hábitos, tanto mais serão capazes de se apoderar de muitos e amplamente diversificados espaços na organização da natureza, conseguindo assim crescer numericamente.

Podemos ver claramente isto no caso de animais com hábitos simples. Tome-se o exemplo de um quadrúpede carnívoro, do qual o número sustentável em qualquer região há muito atingiu plenamente a média. Permitindo-se que os seus poderes naturais de proliferação actuem, só conseguirá aumentar numericamente (não sofrendo a região quaisquer mudanças nas suas condições) se os seus descendentes variantes se apoderarem de espaços presentemente ocupados por outros animais: alguns deles, por exemplo, tornando-se capazes de se alimentar de novos tipos de presa, mortos ou vivos; outros habitando novos locais, trepando às árvores, frequentando a água, e outros tornando-se talvez menos carnívoros. Quanto mais diversificados em hábitos e estrutura os descendentes do nosso animal carnívoro se tornassem, mais lugares poderiam ocupar.





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