A Origem das Espécies - Cap. 2: CAPÍTULO I
VARIAÇÃO SOB DOMESTICAÇÃO Pág. 15 / 524

da peculiaridade e não à sua causa primária, que pode ter agido sobre os óvulos ou o elemento masculino; quase da mesma maneira que na prole cruzada de uma vaca cornicurta com um touro cornilongo, o maior comprimento do corno, embora apareça tardiamente na vida, deve-se claramente ao elemento masculino.

Tendo aludido ao tema da reversão, posso aqui referir uma afirmação frequentemente proferida pelos naturalistas - nomeadamente, que as nossas variedades domésticas, quando se tornam selvagens, revertem, gradual mas infalivelmente, aos caracteres das suas castas aborígenes. Daí ter-se argumentado que a partir das raças domésticas não se pode retirar inferências acerca das espécies em estado de natureza. Procurei em vão descobrir com base em que factos decisivos se faz tão frequente e ousadamente a anterior afirmação. Seria muito difícil provar a sua verdade: podemos seguramente concluir que muitíssimas das variedades domésticas mais fortemente marcadas não poderiam de modo algum viver em estado selvagem. Em muitos casos, desconhecemos a casta aborígene e não sabemos portanto se uma reversão quase perfeita ocorreu ou não. Seria absolutamente necessário, de maneira a impedir os efeitos do entrecruzamento, que apenas se libertasse uma única variedade no seu novo ambiente. Não obstante, na medida em que as nossas variedades certamente revertem, ocasionalmente, em alguns dos -seus caracteres, a formas ancestrais, parece-me plausível que, conseguindo naturalizar, ou cultivar durante muitas gerações as diversas variedades da couve, por exemplo, em solo muito pobre (caso em que, contudo, se teria de atribuir algum efeito à acção directa do solo pobre), estas reverteriam, em grande parte ou mesmo na totalidade, à casta aborígene selvagem.





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