A Origem das Espécies - Cap. 6: CAPÍTULO V
LEIS DA VARIAÇÃO Pág. 150 / 524

Como é difícil imaginar que os olhos, embora inúteis, pudessem ser de alguma maneira nocivos para os animais que vivem na escuridão, atribuo a sua perda totalmente ao desuso. Num dos animais cegos, nomeadamente, a ratazana cavernícola, os olhos são enormes; e o Professor Silliman pensou que este recuperava, depois de viver durante alguns dias à luz, um ligeiro poder de visão. Do mesmo modo que na Madeira as asas de alguns insectos foram aumentadas e as de outros reduzidas pela selecção natural, auxiliada pelo uso e desuso, assim no caso da ratazana cavernícola a selecção natural parece ter lutado com a perda da luz e aumentado o tamanho dos olhos; ao passo que com todos os outros habitantes das grutas o desuso parece ter feito por si o trabalho daquela.

É difícil imaginar condições de vida mais semelhantes entre si do que cavernas calcárias num clima quase idêntico: pelo que na perspectiva comum de que os animais cegos foram criados separadamente para as grutas americanas e europeias, poder-se-ia esperar semelhanças íntimas na sua organização e afinidades; mas, como Schiödte e outros observaram, não é este o caso, e os insectos cavernícolas dos dois continentes não são mais intimamente próximos do que se poderia antecipar pela semelhança geral dos outros habitantes da América do Norte e da Europa. Na minha perspectiva, temos de supor que os animais americanos, tendo poderes de visão comuns, migraram lentamente em gerações sucessivas, do mundo exterior para recessos cada vez mais profundos nas grutas do Kentucky, como os animais europeus fizeram nas cavernas da Europa. Temos alguns indícios desta gradação do hábito; pois, como observa Schiödte, «os animais não muito remotos das nossas formas comuns preparam a transição da luz para a escuridão.





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