A Origem das Espécies - Cap. 6: CAPÍTULO V
LEIS DA VARIAÇÃO Pág. 165 / 524

Quando vemos qualquer parte ou um órgão desenvolvidos de uma maneira ou em grau notáveis, em qualquer espécie, é razoável pressupor que isso é muito importante para essa espécie; não obstante, a parte é neste caso eminentemente susceptível à variação. Por que razão deveria isto ser assim? Na perspectiva de que cada espécie foi independentemente criada, com todas as suas partes como hoje as vemos, não vejo qualquer explicação. Mas na perspectiva de que os grupos de espécies descendem de outras espécies e foram modificados através da selecção natural, penso que se pode obter alguma luz. Nos nossos animais domésticos, se alguma parte ou o animal inteiro forem descurados, e nenhuma selecção for exercida, essa parte (por exemplo, a crista nas galinhas de Dorking), ou toda a linhagem, deixarão de ter um carácter quase uniforme. Dir-se-á então que a linhagem degenerou. Nos órgãos rudimentares, nos que são apenas ligeiramente especializados para qualquer fim específico e talvez nos grupos polimórficos, vemos um exemplo natural quase paralelo; pois em tais casos a selecção natural ou não entra completamente em acção ou não pode fazê-lo, e assim a organização permanece numa condição instável. Mas o que aqui nos interessa em especial é que, nos nossos animais domésticos, também aqueles aspectos, que hoje sofrem uma rápida modificação por selecção contínua, são eminentemente susceptíveis à variação. Veja-se as linhagens do pombo; veja-se que quantidade prodigiosa de diferença há no bico dos diferentes pombos-cambalhota, no bico e na barbela dos diferentes pombos-correio, na postura e na cauda dos nossos pombos-de-leque, etc., sendo sobretudo a estes aspectos que os criadores ingleses hoje prestam atenção. Mesmo nas sub-linhagens, como no pombo-cambalhota de bico curto, é notoriamente difícil criá-los até quase atingirem a perfeição, e é frequente nascerem indivíduos que se desviam bastante do padrão.





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