A Origem das Espécies - Cap. 6: CAPÍTULO V
LEIS DA VARIAÇÃO Pág. 166 / 524

Pode-se afirmar com verdade que decorre uma luta constante entre, por um lado, a tendência para reverter a um estado menos modificado, bem como uma tendência inata para a variabilidade adicional de todos os tipos, e, por outro lado, o poder da selecção contínua para manter a pureza da linhagem. A longo prazo, a selecção prevalece, e não esperamos fracassar ao ponto de criar uma ave tão grosseira como um pombo-cambalhota comum a partir de uma boa linhagem de caras curtas. Mas enquanto a selecção avança rapidamente, pode-se sempre contar com muita variabilidade na estrutura que sofre modificação. Vale a pena mencionar, além disso, que estes caracteres variáveis, produzidos pela selecção humana, por vezes ficam associados, devido a causas que nos são completamente desconhecidas, mais a um sexo do que a outro, em geral ao sexo masculino, como sucede com a bar bela dos pombos-correio e o papo alargado dos pombos-de-papo.

Passemos agora à natureza. Quando uma parte se desenvolveu extraordinariamente em qualquer espécie, por comparação com as outras espécies do mesmo género, podemos concluir que esta parte sofreu uma grande quantidade de modificação, desde o período em que a espécie divergiu do progenitor comum desse género. Este período raramente será remoto, visto <,!-S espécies raramente persistirem durante mais do que um período geológico. Uma quantidade extraordinária de modificação sugere uma quantidade invulgarmente ampla e prolongada de variabilidade, que foi continuamente acumulada pela selecção natural para benefício da espécie. Mas como a variabilidade da parte ou órgão extraordinariamente desenvolvidos foi tão acentuada e prolongada durante um período não demasiado remoto, podemos, como regra geral, esperar ainda encontrar mais variabilidade nessas partes da organização do que noutras, que permaneceram quase constantes durante um período muito maior.





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