A Origem das Espécies - Cap. 6: CAPÍTULO V
LEIS DA VARIAÇÃO Pág. 173 / 524

De acordo com a perspectiva comum de que cada espécie foi independentemente criada, teríamos de atribuir esta semelhança nos pedúnculos alargados destas três plantas, não à vera causa de uma genealogia comum e uma decorrente tendência para variar analogamente, mas a três actos de criação distintos, embora intimamente relacionados.

Nos pombos, todavia, deparamo-nos com outro caso, designadamente, o aparecimento ocasional, em todas as linhagens, de aves de cor azul xistosa com duas faixas negras nas asas, uma rabadilha branca, uma faixa no final da cauda, com as penas exteriores orladas de branco perto da base. Sendo todas estas marcas características do antecessor pombo comum, presumo que ninguém tenha dúvidas quanto a tratar-se de um caso de reversão e não do aparecimento de uma nova variedade, embora análoga, nas diversas linhagens. Creio que podemos retirar com segurança esta conclusão, porque, como vimos, a prole cruzada de duas linhagens e matizes distintos é eminentemente susceptível ao aparecimento destas marcas coloridas; neste caso, além da influência do mero acto de cruzamento sobre as leis da hereditariedade, nada há nas condições externas de vida que cause o reaparecimento do azul xistoso e as diversas marcas.

Sem dúvida que o reaparecimento de caracteres, depois de perdidos durante tantas, talvez centenas, de gerações, é muito surpreendente. Mas quando uma linhagem se cruzou apenas uma vez com qualquer outra linhagem, a prole por vezes exibe uma tendência para reverter a caracteres da linhagem alienígena durante muitas gerações - segundo alguns, durante uma dúzia ou mesmo uma vintena de gerações. Após doze gerações, a proporção de sangue, para usar uma expressão comum, de qualquer ancestral, é apenas de 1 em 2048; e, no entanto, como vemos, é comum a crença de que esta pequeníssima proporção de sangue alienígena conserva uma tendência para a reversão.





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