A Origem das Espécies - Cap. 2: CAPÍTULO I
VARIAÇÃO SOB DOMESTICAÇÃO Pág. 18 / 524

tipo todos conhecemos, descendem de uma só espécie, tais factos teriam um grande peso para nos fazer duvidar da imutabilidade das muitíssimas espécies naturais intimamente próximas - por exemplo, das muitas raposas - que habitam diferentes partes do mundo. Não acredito, como veremos em breve, que todos os nossos cães descendem de uma qualquer espécie selvagem; mas, no caso de outras variedades domésticas, há indícios plausíveis, ou mesmo robustos, a favor desta perspectiva.

Pressupôs-se frequentemente que o homem escolheu para domesticação animais e plantas com uma extraordinária tendência inerente para variar e também para suportar climas diversos. Não contesto que estas capacidades aumentaram imenso o valor da maioria das nossas produções domesticadas; mas como poderia um selvagem saber, ao amansar um animal pela primeira vez, se este iria ou não variar nas gerações seguintes e se suportaria ou não outros climas? Será que a menor variabilidade do burro ou da galinha-da-guiné, ou a menor capacidade da rena para resistir ao calor, ou a do camelo para resistir ao frio, impediu que fossem domesticados? Não posso duvidar de que, se outros animais e plantas, iguais em número às nossas produções domesticadas, pertencentes a classes e regiões igualmente diferentes, fossem retirados de um estado de natureza, e se se pudesse fazê-los procriar durante igual número de gerações sob domesticação, teriam em média uma variação tão ampla como as espécies antecessoras das nossas produções domesticadas existentes.

No caso da maioria dos nossos animais e plantas domesticados na antiguidade, não penso que seja possível chegar a uma conclusão definitiva quanto a descenderem de uma ou de diversas espécies. O principal argumento em que se apoiam





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