A Origem das Espécies - Cap. 2: CAPÍTULO I
VARIAÇÃO SOB DOMESTICAÇÃO Pág. 19 / 524

aqueles que acreditam na origem múltipla dos nossos animais domésticos é que encontramos nos registos mais antigos, sobretudo nos monumentos egípcios, muita diversidade nas linhagens; que algumas das linhagens se assemelham intimamente, e talvez sejam idênticas, às linhagens ainda existentes. Ainda que se descobrisse que este último facto é mais rigorosa e geralmente verdadeiro do que me parece, o que mostra senão que algumas das nossas linhagens aí se originaram há quatro ou cinco mil anos? Mas as investigações do Sr. Horner tornaram até certo ponto plausível a existência há treze ou catorze mil anos de homens suficientemente civilizados para ter manufacturas de cerâmica no vale do Nilo; e quem fingirá saber quanto tempo, antes destes períodos antigos, não poderiam ter existido no Egipto selvagens como os da Tierra del Fuego ou da Austrália, que possuem um cão semidoméstico?

Creio que todo este assunto permanecerá forçosamente vago; posso, não obstante, sem entrar aqui em quaisquer detalhes, afirmar que, a partir de considerações geográficas e outras, considero muito provável a descendência dos nossos cães domésticos a partir de diversas espécies selvagens. No que se refere às ovelhas e às cabras, não posso formar qualquer opinião. Quer-me parecer, a partir de factos que me foram comunicados pelo Sr. B1yth acerca dos hábitos, voz e constituição, etc., do gado bovino corcunda indiano, que estes descendem de uma casta aborígene diferente daquela de que descende o gado bovino europeu; e diversos especialistas competentes acreditam que estes últimos têm mais do que um antecessor selvagem. No que se refere aos cavalos, por razões que não posso apresentar aqui, inclino-me hesitantemente para a crença de que, contrariamente ao que afirmam diversos autores, todas as variedades descendem de uma casta selvagem.





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