A Origem das Espécies - Cap. 7: CAPÍTULO VI
DIFICULDADES ENFRENTADAS PELA TEORIA Pág. 201 / 524

para ajustar o foco a diferentes distâncias, para aceitar diferentes quantidades de luz e corrigir a aberração esférica e cromática, poderia ter sido formado por selecção natural, parece absurda no maior grau possível. No entanto, a razão diz-me que se se puder mostrar que existem numerosas gradações a partir de um olho perfeito e complexo e um muito imperfeito e simples, sendo cada grau útil ao seu possuidor; se além disso o olho variar muito ligeiramente e as variações forem herdadas, o que seguramente acontece; e se qualquer variação ou modificação no órgão for alguma vez útil a um animal sob condições de vida variáveis, então a dificuldade de acreditar que um olho perfeito e complexo se podia formar por meio de selecção natural, embora insuperável pela nossa imaginação, dificilmente se poderá considerar real. O modo como um nervo vem a tornar-se sensível à luz é algo que dificilmente nos preocupa mais do que o modo como a própria vida se originou pela primeira vez; mas posso observar que diversos factos me fazem suspeitar de que qualquer nervo sensível se pode tornar sensível à luz, e também às vibrações do ar mais ásperas que produzem som.

Ao procurar as gradações através das quais um órgão se aperfeiçoou em qualquer espécie, devemos olhar exclusivamente para os seus antepassados directos; mas isto raramente é possível, e somos forçados em cada caso a olhar para espécies do mesmo grupo, ou seja, para os descendentes colaterais da mesma forma antecessora original, de maneira a ver que gradações são possíveis e pela hipótese de algumas gradações terem sido transmitidas desde as fases mais primitivas de descendência, em condição inalterada ou pouco alterada. Entre os vertebrados existentes, não encontramos senão uma pequena quantidade de gradação na estrutura do olho, e com as espécies fósseis nada podemos aprender nesta área.





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