A Origem das Espécies - Cap. 7: CAPÍTULO VI
DIFICULDADES ENFRENTADAS PELA TEORIA Pág. 216 / 524

em cada criatura viva (dando alguma margem para a acção directa das condições físicas) ou como tendo sido de especial utilidade para alguma forma ancestral ou como tendo agora uma utilidade especial para os descendentes desta forma - ou directa ou indirectamente, através das complexas leis do crescimento.

A selecção natural não pode de maneira alguma produzir qualquer modificação em qualquer espécie exclusivamente para o bem de outra espécie; embora em toda a natureza uma espécie retire incessantemente vantagens e se aproveite da estrutura de outra. Mas a selecção natural pode produzir e frequentemente produz estruturas para o prejuízo directo de outra espécie, como vemos nos caninos da víbora, e no ovipositor da vespa-parasita ichneumon, pelo qual os seus ovos são depositados nos corpos vivos de outros insectos. Se se pudesse provar que qualquer parte da estrutura de qualquer espécie se formara para o exclusivo bem de outra espécie, isso aniquilaria a minha teoria, pois tal não poderia ter sido produzido por selecção natural. Embora se possa encontrar muitas afirmações de teor idêntico em obras de história natural, não consigo encontrar sequer uma que me pareça ter algum peso. É reconhecido que a cascavel tem um canino venenoso para a sua própria defesa e para a destruição da sua presa; mas alguns autores supõem que ao mesmo tempo esta serpente é munida de um chocalho para seu próprio prejuízo, nomeadamente, alertando a presa para escapar. Acreditaria quase tão facilmente que o gato enrola a ponta da cauda quando se prepara para saltar, de modo a avisar o malfadado rato. Mas não tenho aqui espaço para entrar neste e noutros exemplos semelhantes.

A selecção natural nunca produzirá num ser algo que seja prejudicial para o próprio, pois a selecção natural age unicamente pelo e para o bem de cada ser.





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