Nenhum órgão se formará, como observou Paley, com o propósito de causar dor ao seu possuidor ou lesá-lo. Se se encontrar um equilíbrio razoável entre o bem e o mal causados por cada parte, cada qual será considerado em geral vantajoso. Após o intervalo de tempo, sob condições de vida variáveis, se alguma parte vier a ser prejudicial, será modificada; ou, se não o for, o ser extinguir-se-á, como miríades se extinguiram.
A selecção natural tende apenas a fazer cada ser orgânico tão perfeito como, ou ligeiramente mais perfeito do que, os outros habitantes da mesma região com os quais tem de lutar pela existência. E vemos que este é o grau de perfeição obtido em estado de natureza. As produções endémicas da Nova Zelândia, por exemplo, são perfeitas quando comparadas entre si; mas cedem rapidamente hoje ante o avanço das legiões de plantas e animais introduzidas a partir da Europa. A selecção natural não produzirá a perfeição absoluta, tão-pouco nos deparamos sempre, tanto quanto sabemos, com este elevado padrão em estado de natureza. Segundo fontes fidedignas, a correcção da aberração da luz não é perfeita mesmo naquele órgão perfeitíssimo, o olho. Se a nossa razão nos leva a admirar com entusiasmo uma multidão de apetrechos na natureza, esta mesma razão diz-nos, embora possamos facilmente errar em ambos os lados, que alguns mecanismos são menos perfeitos. Poderemos considerar perfeito o ferrão da vespa ou da abelha, o qual, quando usado contra muitos animais hostis, não pode ser retirado, devido às serrilhas retrógradas, causando assim inevitavelmente a morte do insecto arrancando-lhe as vísceras?
Se olhamos para o ferrão da abelha como tendo existido originalmente num progenitor remoto como instrumento de perfuração serreado,