A Origem das Espécies - Cap. 8: CAPÍTULO VII
INSTINTO Pág. 232 / 524

Como é raro, por outro lado, que os nossos cães civilizados, mesmo quando bastante jovens, precisem que lhes ensinemos a não atacar aves de capoeira, ovelhas e porcos! É certo que ocasionalmente atacam, sendo então fisicamente castigados; e se não ficam curados, são abatidos; pelo que o hábito e um certo grau de selecção provavelmente conspiraram para civilizar hereditariamente os nossos cães. Por outro lado, os frangos perderam inteiramente pelo hábito o medo ao cão e ao gato, que sem dúvida era originalmente instintivo neles, da mesma maneira que é tão manifestamente instintivo nas crias do faisão, ainda que criados por uma galinha de capoeira. Não que os frangos tenham perdido todo o medo, apenas o medo a cães e gatos, pois se galinha emite o cacarejo de perigo, eles (mais especialmente os jovens perus) saem de debaixo dela, fogem e escondem-se na erva ou vegetação envolventes; e isto é evidentemente feito com o propósito instintivo de permitir, como vemos nas aves terrestres selvagens, que a mãe voe. Mas este instinto preservado pelas nossas galinhas tornou-se inútil sob domesticação, pois a mãe galinha quase perdeu, devido ao desuso, o poder de voar.

Podemos portanto concluir que os instintos domésticos foram adquiridos e os instintos naturais perdidos em parte pelo hábito e em parte porque o homem seleccionou e acumulou ao longo de gerações sucessivas hábitos mentais e acções peculiares que surgiram originalmente por aquilo a que na nossa ignorância temos de chamar «acidente». Em alguns casos, o hábito compulsório bastou para produzir tais mudanças mentais hereditárias; noutros casos, o hábito compulsório nada fez e tudo foi resultado da selecção, levada a cabo metódica e inconscientemente; mas, na maioria dos casos, provavelmente, o hábito e a selecção agiram conjuntamente.





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