A Origem das Espécies - Cap. 8: CAPÍTULO VII
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Um dia tive a sorte de por acaso presenciar uma migração de um ninho para outro e foi um espectáculo muitíssimo interessante contemplar as mestras a transportar cuidadosamente, como Huber descreveu, as escravas nas suas mandíbulas. Noutro dia, a minha atenção foi captada por cerca de uma vintena das escravistas que visitavam o mesmo sítio, evidentemente não em busca de comida; aproximaram-se e foram vigorosamente repelidas por uma comunidade independente da espécie escrava (F. fusca); por vezes, três destas formigas chegavam a agarrar-se às pernas das escravistas F. sanguinea. As últimas matavam impiedosamente as suas pequenas adversárias e transportavam os seus cadáveres para o ninho, como alimento, a 26 metros de distância; mas impediram-nas de levar quaisquer pupas para criarem como escravas. Escavei então uma pequena parcela das pupas de F. fusca de outro ninho e coloquei-as num ponto a descoberto, perto do local do combate; foram avidamente capturadas e transportadas pelas déspotas, que talvez tenham imaginado que afinal venceram o seu último combate.

Ao mesmo tempo, coloquei no mesmo sítio uma pequena parcela das pupas de outra espécie, F. flava, com algumas destas pequenas formigas amarelas ainda agarradas aos fragmentos do ninho. Por vezes, embora raramente, membros desta espécie são convertidos em escravos, como descreveu o Sr. Smith. Apesar de tão pequena, é uma espécie muito corajosa, e vi-as atacar ferozmente outras formigas. Numa ocasião, descobri para minha surpresa uma comunidade independente de F. fiava sob uma pedra, abaixo de um ninho da escravista F. sanguínea; e quando perturbei acidentalmente ambos os ninhos, as pequenas formigas atacaram os seus grandes vizinhos com surpreendente coragem.





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