A Origem das Espécies - Cap. 8: CAPÍTULO VII
INSTINTO Pág. 244 / 524

Portanto, podemos seguramente concluir que se pudéssemos modificar ligeiramente os instintos que a Melipona já possui, que em si não são muito admiráveis, esta abelha faria uma estrutura tão maravilhosamente perfeita como a da abelha-operária. Temos de supor que a Melipona faz os seus alvéolos realmente esféricos e de tamanho igual; e isto não seria muito surpreendente, vendo que ela já o faz até certo ponto e vendo as cavidades perfeitamente cilíndricas que muitos insectos conseguem fazer na madeira, aparentemente girando sobre um ponto fixo. Temos de supor que a Melipona dispõe os seus alvéolos por camadas planas, como já faz os alvéolos cilíndricos; e temos de supor além disso, e esta é a maior dificuldade, que pode de alguma maneira discernir com precisão a que distância ficar das suas colegas obreiras quando estão muitas a fazer as suas esferas; mas ela já consegue a tal ponto avaliar a distância, que desenha sempre as suas esferas de modo a intersectarem-se amplamente; então une os pontos de intersecção através de superfícies perfeitamente planas. Temos ainda de supor, mas isto não é uma dificuldade, que, depois de ter formado prismas hexagonais pela intersecção de esferas adjacentes na mesma camada, a MeliPona pode prolongar o hexágono até qualquer extensão necessária para conter a reserva de mel; da mesma maneira que o grosseiro zângão adiciona cilindros de cera às aberturas circulares dos seus velhos casulos. Através de tais modificações de instintos, em si não muito admiráveis - dificilmente mais admiráveis do que os que orientam uma ave a fazer o seu ninho -, creio que a abelha-operária adquiriu por meio de selecção natural os seus inimitáveis poderes arquitectónicos.

Mas pode-se testar experimentalmente esta teoria.





Os capítulos deste livro