A Origem das Espécies - Cap. 2: CAPÍTULO I
VARIAÇÃO SOB DOMESTICAÇÃO Pág. 25 / 524

variedades e não procederam do pombo comum, têm de ter descendido de pelo menos sete ou oito castas aborígenes; pois é impossível obter as linhagens domésticas actuais através do cruzamento de um número inferior: como, por exemplo, poderia um pombo-de-papo ser produzido pelo cruzamento de duas linhagens, a menos que uma das castas antecessoras possuísse o característico papo enorme? As supostas castas aborígenes têm todas de ter sido pombos comuns, isto é, que não procriam nas árvores nem aí pousam voluntariamente*. Mas, além da C. livia, com as suas subespécies geográficas, apenas se conhecem duas ou três outras espécies de pombo comum; e estas não partilham quaisquer caracteres com as linhagens domésticas. Pelo que as supostas castas aborígenes têm ou de existir ainda nas regiões onde foram originalmente domesticadas, sendo porém desconhecidas pelos ornitólogos - o que, tendo em conta o seu tamanho, hábitos, e caracteres excepcionais, parece muito improvável -, ou têm de se ter extinguido em estado selvagem. Mas é improvável que as aves que procriam em precipícios e são boas voadoras sejam exterminadas; e o pombo comum, que tem os mesmos hábitos que as linhagens domésticas, não foi exterminado, mesmo em muitas das mais pequenas ilhotas britânicas, ou nas praias do Mediterrâneo. Pelo que a suposta extinção de tantas espécies com hábitos semelhantes aos do pombo comum me parece uma hipótese muito precipitada.

*O termo inglês para o pombo comum é «rock-pigeon» ou «pombo-das-rochas», também usado em português para referir a mesma ave, por se alimentar e procriar principalmente no solo. [N.T.]

Além disso, as diversas linhagens domesticadas que mencionei foram transportadas para todas as partes do mundo e, portanto,





Os capítulos deste livro