A Origem das Espécies - Cap. 8: CAPÍTULO VII
INSTINTO Pág. 252 / 524

Mas suponhamos que esta última circunstância determinava, como é provável que frequentemente determine, o número de zângãos que poderiam existir numa região; suponhamos ainda que a comunidade tinha de suportar o Inverno e consequentemente precisaria de uma reserva de mel: neste caso não pode haver dúvida de que seria uma vantagem para o nosso zângão se uma ligeira modificação do seu instinto o levasse a fazer os seus alvéolos de cera próximos entre si, de modo a intersectarem um pouco; pois uma parede comum, mesmo a dois alvéolos contíguos economizaria um pouco de cera. Portanto, seria cada vez mais vantajoso ao nosso zângão se fizesse os seus alvéolos cada vez mais regulares, mais próximos entre si e agregados numa massa, como os alvéolos da Melipona; pois neste caso uma grande parte da superfície que delimita cada alvéolo serviria para delimitar outros alvéolos e poupar-se-ia muita cera. Mais uma vez, pela mesma causa, seria vantajoso para a Melipona se fizesse os seus alvéolos mais próximos entre si e mais regulares em todos os aspectos do que são no presente; pois então, como vimos, as superfícies esféricas desapareceriam por completo e seriam todas substituídas por superfícies planas; e a Melipona faria um favo tão perfeito como o da abelha-operária. A selecção natural não poderia conduzir além desta fase de perfeição arquitectónica; pois o favo da abelha-operária, tanto quanto sabemos, é absolutamente perfeito na economia da cera.

Creio que assim o mais maravilhoso de todos os instintos conhecidos, o da abelha-operária, se pode explicar pelo facto de a selecção natural ter aproveitado numerosas modificações ligeiras e sucessivas de instintos mais simples; tendo a selecção natural através de etapas lentas, cada vez mais perfeitamente, levado as abelhas a dragar esferas iguais a dada distância entre si numa camada dupla e a acumular e escavar a cera segundo os planos de intersecção.





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