A Origem das Espécies - Cap. 9: CAPÍTULO VIII HIBRIDISMO Pág. 277 / 524

Dá-se muitas vezes a mais ampla diferença possível na facilidade de fazer cruzamentos recíprocos. Tais casos são muito importantes, porquanto provam que em quaisquer duas espécies a capacidade para cruzar é não raro completamente independente da sua afinidade sistemática, ou de qualquer diferença reconhecível em toda a sua organização. Por outro lado, estes casos mostram claramente que a capacidade para cruzar está ligada a diferenças constitutivas, imperceptíveis para nós, e confinadas ao sistema reprodutivo. Esta diferença no resultado dos cruzamentos recíprocos entre as mesmas duas espécies foi há muito observada por Kölreuter. Por exemplo: a Mirabilis jalappa pode facilmente ser fertilizada pelo pólen da M. longiflora, e os híbridos assim produzidos são suficientemente férteis; mas Kölreuter tentou mais de 200 vezes, durante oito anos consecutivos, fertilizar reciprocamente a M. longiflora com o pólen da M. jalappa, e fracassou redondamente. Poder-se-ia mencionar muitos outros casos igualmente impressionantes.

* Em português as expressões comuns são «árvore de folha caduca» e «árvore de folha perene». Contudo, «decídua» e «sempervirente» são traduções muito mais literais. Embora «decídua» esteja dicionarizada em português, só encontrei «sempervirente» no Dicionário da Real Academia Espanhola; mas, como se trata de uma palavra igualmente bem formada em português, não vejo uma boa razão para não a integrarmos no nosso léxico. [N.T.]

Thuret observou o mesmo facto com certas algas ou Fuci. Gârtner, além disso, descobriu que esta diferença de facilidade em fazer cruzamentos recíprocos é extremamente comum num grau mais reduzido. Observou-a mesmo entre formas tão intimamente próximas (como as Mathiola annua e glabra) que muitos botânicos as classificam apenas como variedades.





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