A Origem das Espécies - Cap. 2: CAPÍTULO I
VARIAÇÃO SOB DOMESTICAÇÃO Pág. 31 / 524

como procriavam bem, tive tanta dificuldade em acreditar que poderiam descender de um antepassado comum como qualquer naturalista teria ao chegar a uma conclusão semelhante a respeito das muitas espécies de tentilhões ou outros grupos numerosos de aves, na natureza. Uma circunstância impressionou-me bastante; nomeadamente, O facto de todos os criadores dos vários animais domésticos e os cultivadores de plantas com quem já conversei ou cujos tratados li estarem firmemente convencidos de que as diversas linhagens de que cada um tratou descendem de igual número de espécies aboriginalmente distintas. Pergunte o leitor, como perguntei, a um célebre criador de gado bovino Hereford, se o seu gado não poderia descender da variedade cornilonga e ouvir-lhe-á risos de escárnio. Nunca conheci um criador de pombos, galinhas, patos ou coelhos que não estivesse plenamente convencido de que cada linhagem principal descende de uma espécie distinta. Van Mons, no seu tratado sobre pereiras e macieiras, mostra quão completa é a sua descrença na possibilidade de os diversos géneros, por exemplo a reineta de Ribston ou a Codlin, provirem das sementes da mesma árvore. Poder-se-ia apresentar inumeráveis exemplos. A explicação, segundo penso, é simples: o estudo prolongado deixa-os fortemente impressionados com as diferenças entre as muitas variedades; e ainda que estejam bem cientes de que cada linhagem varia ligeiramente, visto que ganham prémios com a selecção dessas diferenças ligeiras, ignoram todos os argumentos gerais e recusam recapitular mentalmente as diferenças ligeiras acumuladas durante muitas gerações sucessivas. Aqueles naturalistas que, sabendo muito menos do que o criador acerca das leis da hereditariedade e não mais do que este acerca dos




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