A Origem das Espécies - Cap. 2: CAPÍTULO I
VARIAÇÃO SOB DOMESTICAÇÃO Pág. 32 / 524

elos intermédios nas longas linhas de ascendência, admitem no entanto que muitas das nossas variedades domésticas descendem dos mesmos antecessores - não poderão aprender uma lição de prudência, quando escarnecem da ideia de que as espécies em estado de natureza são descendentes directos de outras espécies?

Selecção. - Consideremos agora brevemente as etapas pelas quais, a partir de uma ou de várias espécies próximas, se produziram as variedades domésticas. Poder-se-á talvez atribuir um efeito modesto à acção directa das condições externas de vida, outro tanto ao hábito; mas seria ousado explicar através destes factores as diferenças entre um cavalo de tiro e um cavalo de corrida, entre um galgo e um cão-de-santo-humberto, entre um pombo-correio e um pombo-cambalhota. Uma das características mais notáveis nas nossas variedades domesticadas é que nelas observamos adaptação, certamente não para o próprio bem do animal ou da planta, mas para proveito do homem ou para satisfazer os seus caprichos. Provavelmente, algumas variações que lhe são úteis surgiram subitamente, ou numa só etapa; muitos botânicos, por exemplo, acreditam que o cardo-penteador, com os seus espinhos incomparáveis a qualquer engenho mecânico, é apenas uma variedade do Dípsaco selvagem; e esta quantidade de mudança pode ter surgido subitamente numa planta ainda jovem, nascida de uma semente. Assim provavelmente sucedeu com os cães turnspit*; e sabe-se que foi este o caso com o carneiro de pernas curtas. Mas quando comparamos o cavalo de tiro pesado e o cavalo de corrida, o dromedário e o camelo, as várias linhagens de ovelhas adaptadas ou à terra cultivada ou às pastagens montanhesas, sendo a lã de uma linhagem boa para uma finalidade e a de outra linhagem





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