A Origem das Espécies - Cap. 10: CAPÍTULO IX
SOBRE A INPERFEIÇÃO DO REGISTO GEOLÓGICO Pág. 327 / 524

Mas sobrestimamos continuamente a perfeição do registo geológico e inferimos falsamente, porque não foram descobertos certos géneros ou famílias sob um determinado estágio, que não existiram antes desse estágio. Esquecemos continuamente quão grande é o mundo, comparado com a área na qual as nossas formações geológicas foram cuidadosamente examinadas; esquecemos que noutros locais podem ter existido há muito grupos de espécies, multiplicando-se lentamente antes de invadirem os antigos arquipélagos da Europa e dos Estados Unidos. Não concedemos uma margem adequada aos enormes intervalos de tempo que provavelmente decorreram entre as nossas formações consecutivas - em alguns casos talvez maiores do que o tempo exigido para a acumulação de cada formação. Estes intervalos terão dado tempo à multiplicação de espécies a partir de uma ou algumas poucas formas antecessoras; e, na formação seguinte, tais espécies parecerão como que subitamente criadas.

Posso aqui recordar urna observação anterior, nomeadamente que a adaptação de um organismo a um modo de vida novo e peculiar, por exemplo, a voar, poderia exigir um período imensamente longo; mas que quando isto se efectuasse e algumas espécies adquirissem assim uma grande vantagem sobre outros organismos, seria necessário um período de tempo comparativamente breve para produzir muitas formas divergentes, que seriam capazes de se propagar rápida e amplamente em todo o mundo.

Darei agora alguns exemplos para ilustrar estas observações; e para mostrar quão susceptíveis somos ao erro, supondo que grupos inteiros de espécies foram subitamente produzidos. Posso relembrar o bem conhecido facto de que nos tratados de geologia, recentemente publicados,' a grande classe dos mamíferos era sempre referida como se tivesse surgido abruptamente no início da série terciária.





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