A Origem das Espécies - Cap. 10: CAPÍTULO IX
SOBRE A INPERFEIÇÃO DO REGISTO GEOLÓGICO Pág. 331 / 524

A maior parte dos argumentos que me convenceram de que as espécies existentes do mesmo grupo descendem de um só progenitor, aplicam-se com quase igual força às mais primitivas espécies conhecidas. Não posso duvidar, por exemplo, de que todas as trilobites silurianas descendem de um mesmo crustáceo, que tem de ter vivido muito antes da época siluriana e que provavelmente diferia muito de qualquer animal conhecido. Alguns dos mais antigos animais silurianos, como o Nautilus, o Lingula, etc., não diferem muito das espécies vivas; e não se pode supor, segundo a minha teoria, que estas antigas espécies são as progenitoras de todas as espécies das ordens a que pertencem, pois não apresentam caracteres que lhes sejam de alguma maneira intermédios. Se, além disso, fossem os progenitores destas ordens, teriam quase certamente sido há muito tempo suplantados e exterminados pelos seus numerosos e aperfeiçoados descendentes.

Consequentemente, se a minha teoria é verdadeira, é indisputável que antes da deposição do mais baixo estrato siluriano decorreram longos períodos, tão longos ou provavelmente mais longos do que todo o intervalo decorrido desde a época siluriana até ao presente; e que durante estes períodos de tempo vastos e, no entanto, completamente desconhecidos, o mundo pululava de criaturas vivas.

À questão da razão por que não encontramos registos destes vastos períodos primordiais não posso dar uma resposta satisfatória. Diversos dos mais ilustres geólogos, encabeçados por Sir R. Murchison, estão convencidos de que nos vestígios orgânicos do mais baixo estrato siluriano vemos a alvorada da vida sobre este planeta. Outros especialistas muito competentes, como Lyell e o falecido E. Forbes, contestam esta conclusão.





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