A Origem das Espécies - Cap. 11: CAPÍTULO X
SOBRE A SUCESSÃO GEOLÓGICA DOS SERES ORGÂNICOS Pág. 340 / 524

Por exemplo, é perfeitamente possível, se todos os nossos pombos-de-leque fossem destruídos, que os criadores, ao procurarem alcançar o mesmo objectivo durante muito tempo, pudessem criar uma nova linhagem quase indistinguível do nosso pombo-de-leque existente; mas se o pombo comum antecessor fosse também destruído, e temos todas as razões para pensar que em estado de natureza a forma antecessora será geralmente suplantada e exterminada pela sua prole aperfeiçoada, é de todo incrível que um pombo-de-leque, idêntico à linhagem existente, pudesse ser criado a partir de qualquer outra espécie de pombo, ou mesmo a partir das outras raças de pombo doméstico bem estabelecidas, pois o recentemente formado pombo-de-leque herdaria quase de certeza do seu novo progenitor algumas ligeiras diferenças características.

Grupos de espécies, isto é, géneros e famílias, seguem, no seu aparecimento e desaparecimento, as mesmas regras gerais que as espécies individuais, modificando-se com maior ou menor rapidez, em maior ou menor grau. Um grupo não reaparece após ter desaparecido; enquanto dura existe continuamente. Estou ciente de algumas excepções aparentes a esta regra, mas são surpreendentemente escassas, tão escassas que E. Forbes, Pictet e Woodward (embora todos se oponham vigorosamente às perspectivas que defendo) admitem a sua verdade; e a regra harmoniza-se rigorosamente com a minha teoria. Pois como todas as espécies do mesmo grupo descendem de uma espécie, é evidente que enquanto qualquer espécie do grupo tenha aparecido na longa sucessão das épocas, os seus membros têm de ter existido continuamente por igual tempo, de maneira a ter gerado ou formas novas e modificadas ou as mesmas formas antigas inalteradas. As espécies do género Lingula, por exemplo, têm de ter existido continuamente numa sucessão ininterrupta de gerações, desde o mais baixo estrato siluriano até ao presente.





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