A Origem das Espécies - Cap. 11: CAPÍTULO X
SOBRE A SUCESSÃO GEOLÓGICA DOS SERES ORGÂNICOS Pág. 355 / 524

todos os dias constata que os animais paleozóicos, embora pertencendo às mesmas ordens, famílias ou géneros que os que vivem hoje em dia, não estavam nesta época primordial limitados a grupos tão distintos como hoje.

Alguns autores objectaram a que se considerasse quaisquer espécies extintas, ou grupos de espécies, como intermédias a espécies ou grupos de espécies vivas. Se por este termo se entende que uma forma extinta é directamente intermédia em todos os seus caracteres a duas formas vivas, a objecção é provavelmente válida. Mas compreendo que, numa classificação perfeitamente natural, muitas espécies fósseis teriam de ficar entre espécies vivas, e alguns géneros extintos entre géneros vivos, inclusive entre géneros pertencentes a famílias distintas. O caso mais comum, especialmente no que se refere a grupos muito distintos, tais como peixes e répteis, é que, supondo que se distinguem hoje em dia uns dos outros por uma dúzia de caracteres, os membros antigos dos mesmos dois grupos distinguir-se-iam por um número ligeiramente menor de caracteres, pelo que os dois grupos, apesar de antes serem completamente distintos, se aproximaram um pouco nesse período.

É crença comum que quanto mais antiga é uma forma maior é a sua tendência para conectar, através de alguns dos seus caracteres, grupos que hoje são muito diferentes entre si. Sem dúvida, tem de se restringir esta observação aos grupos que sofreram grande modificação no decorrer das épocas geológicas; e seria difícil provar a verdade da proposição, pois ocasionalmente se descobre que um animal vivo, como o lepidossirene, tem afinidades com grupos muito distintos. Porém, se compararmos os antigos répteis e batráquios, os antigos peixes, os antigos cefalópodes e os mamíferos eocénicos com os membros mais recentes das mesmas classes, temos de admitir que há alguma verdade na observação.





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