A Origem das Espécies - Cap. 12: CAPÍTULO XI
DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA Pág. 383 / 524

Aqui apenas posso dar o mais breve resumo dos factos mais importantes. A mudança de clima tem de ter exercido uma poderosa influência na migração: uma região, quando o seu clima era diferente, pode ter sido uma grande rota migratória e hoje ser intransponível; todavia, terei presentemente de discutir com algum detalhe este aspecto do tema. As mudanças de nível em terra têm também de ter sido muito influentes: um istmo estreito hoje separa duas faunas marinhas; suponhamo-lo outrora submerso, e as duas faunas misturar-se-ão ou poderão ter-se misturado antes; onde hoje se estende o mar, a terra pode outrora ter ligado ilhas ou talvez até continentes, e assim ter permitido a passagem das produções terrestres entre um e outro. Nenhum geólogo contestará que ocorreram grandes mutações de nível no período dos organismos existentes. Edward Forbes insistiu que todas as ilhas no Atlântico têm de ter estado recentemente ligadas à Europa ou a África e, analogamente, a Europa à América. Outros autores estabeleceram assim hipoteticamente pontes sobre todos os oceanos, unindo quase todas as ilhas a algum continente. Se, na verdade, os argumentos usados por Forbes são fidedignos, tem de se admitir que quase não existe ilha alguma que não tenha estado recentemente unida a algum continente. Esta perspectiva corta o nó górdio da dispersão das mesmas espécies para os pontos mais distantes e elimina muitas dificuldades: mas tanto quanto me é dado compreender, não temos justificação para reconhecer tais mudanças geográficas imensas dentro do período das espécies existentes. Parece-me que temos indícios abundantes de grandes oscilações de nível nos nossos continentes; mas não de mudanças tão vastas na sua posição e extensão, ao ponto de os ter unidos entre si e às diversas ilhas oceânicas intermédias.




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