A Origem das Espécies - Cap. 12: CAPÍTULO XI
DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA Pág. 388 / 524

que nem uma partícula poderia ser arrastada pela água num trajecto longuíssimo: de uma pequena porção de terra assim completamente encerrada na madeira de um carvalho com cerca de 50 anos germinaram três dicotiledóneas: estou seguro de que se trata de uma observação exacta. Mais uma vez, posso mostrar que as carcaças de aves, ao flutuar no mar, por vezes não são devoradas imediatamente; e as sementes de diversos tipos nos papos de aves flutuantes preservam durante muito tempo a sua vitalidade: ervilhas e vícias, por exemplo, são destruídas mesmo por uma imersão de poucos dias em água salgada; mas algumas retiradas do papo de um pombo, que flutuara durante 30 dias em água salgada artificial, para minha surpresa, quase todas germinaram.

As aves vivas dificilmente podem deixar de ser agentes muitíssimo eficazes no transporte de sementes. Poderia citar vários factos que mostram com que frequência as aves de muitos tipos são arrastadas por ventos fortes a grandes distâncias através do oceano. Creio que podemos pressupor com confiança que, sob tais circunstâncias, o seu ritmo de voo seria frequentemente de 35 milhas por hora; e alguns autores apresentaram uma estimativa muito mais elevada. Nunca vi um exemplo de sementes nutritivas passarem pelos intestinos de uma ave; mas as sementes duras de frutos passam incólumes mesmo através dos órgãos digestivos de um peru. Num período de dois meses, apanhei no meu jardim 12 tipos de semente, no excremento de pequenas aves, as quais me pareceram perfeitas e, algumas, que experimentei, germinaram. Mas o facto que menciono em seguida é mais importante: os papos das aves não segregam suco gástrico e não prejudicam minimamente, corno me diz a experiência, a germinação das sementes; após uma ave ter descoberto e devorado uma grande reserva de alimento, afirma-se com certeza que durante 12 a 18 horas nenhuma semente passa pela moela.





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