A Origem das Espécies - Cap. 2: CAPÍTULO I
VARIAÇÃO SOB DOMESTICAÇÃO Pág. 45 / 524

Devo agora falar sobre as circunstâncias favoráveis, ou adversas, ao poder selectivo do homem. Um elevado grau de variabilidade é obviamente favorável, ao fornecer abundantemente os materiais para que a selecção funcione; não se trata de as meras diferenças individuais não serem perfeitamente suficientes, com o máximo cuidado, para permitir a acumulação de uma grande quantidade de modificação, praticamente em qualquer direcção que se deseje. Mas, uma vez que as variações que são manifestamente úteis ou agradáveis ao homem só aparecem ocasionalmente, a probabilidade de aparecerem será muito maior com a preservação de um grande número de indivíduos; razão pela qual isto vem a ser tão importante para ter êxito. Acerca deste princípio, Marshall observou, a propósito dos carneiros oriundos de certas partes do Yorkshire, que «como pertencem geralmente a pessoas pobres e se encontram sobretudo em pequenos grupos, nunca podem ser aperfeiçoados». Por outro lado, os viveiristas, ao criarem grandes números das mesmas plantas, são geralmente muito mais bem-sucedidos do que os amadores em obter variedades novas e valiosas. A manutenção de um grande número de indivíduos de uma dada espécie em qualquer região exige que se coloque a espécie em condições de vida favoráveis, de maneira que procrie livremente nessa região. Quando há escassez de indivíduos de qualquer espécie, permite-se que todos os indivíduos, independentemente da sua qualidade, procriem, o que impedirá efectivamente a selecção. Mas provavelmente o aspecto mais importante é o animal ou a planta serem de tal maneira úteis ao homem ou tão valorizados por ele que até os mais ligeiros desvios de estrutura ou qualidades de cada indivíduo deviam ser objecto da máxima atenção. A menos que se preste semelhante atenção, nada se poderá fazer.





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