A Origem das Espécies - Cap. 14: CAPÍTULO XIII
AFINIDADES MÚTUAS DOS SERES ORGÂNICOS. MORFOLOGIA. EMBRIOLOGIA. ÓRGÂOS RUDIMENTARES. Pág. 457 / 524

Isto pode seguramente ser feito e é-o frequentemente, desde que um número suficiente de caracteres, por pouco importantes que sejam, denuncie o vínculo escondido da ascendência comum. Suponhamos que duas formas não têm um único carácter em comum; porém, se estas duas formas extremas estão conectadas por uma cadeia de grupos intermédios, podemos imediatamente inferir a sua ascendência comum e colocá-las todas na mesma classe. Como verificamos que órgãos de elevada importância fisiológica - os que servem para preservar a vida sob as condições de existência mais diversas - são geralmente os mais constantes, atribuímos-lhes um valor especial; mas se se constata que os mesmos órgãos, noutro grupo ou secção de um grupo, diferem muito, imediatamente lhes daremos um valor menor na nossa classificação. Penso que mais tarde veremos claramente por que razão os caracteres embriológicos têm uma importância classificativa tão elevada. A distribuição geográfica pode por vezes ser usada de uma maneira útil na classificação de géneros vastos e amplamente distribuídos, porque todas as espécies do mesmo género, que habitam qualquer região distante e isolada, descendem com toda a probabilidade das mesmas antecessoras.

Podemos compreender, com base nestas perspectivas, a distinção muito importante entre afinidades reais e semelhanças analógicas ou adaptativas. Lamarck chamou pela primeira vez a atenção para esta distinção e foi competentemente seguido por Macleay e outros. A semelhança, na forma do corpo e nos membros anteriores semelhantes a barbatanas, entre o dugongo, que é um animal paquidérmico, e a baleia, e entre ambos estes mamíferos e os peixes, é analógica. Entre os insectos há inumeráveis exemplos: assim, Lineu, induzido em erro pelas aparências exteriores, efectivamente classificou um insecto homóptero como uma traça.





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