A Origem das Espécies - Cap. 14: CAPÍTULO XIII
AFINIDADES MÚTUAS DOS SERES ORGÂNICOS. MORFOLOGIA. EMBRIOLOGIA. ÓRGÂOS RUDIMENTARES. Pág. 456 / 524

sob grupos de ordem superior, embora nestes casos a modificação tenha sido mais intensa e levado mais tempo a concluir? Creio que foi inconscientemente usada desta maneira; e só assim posso compreender as diversas regras e orientações seguidas pelos nossos melhores sistematizadores. Não temos quaisquer pedigrees redigidos; temos de distinguir a comunidade de ascendência por meio de semelhanças de qualquer tipo. Escolhemos, assim, aqueles caracteres que, tanto quando podemos compreender, são os menos susceptíveis de ter sido modificados relativamente às condições de vida a que cada espécie esteve recentemente sujeita. As estruturas rudimentares, nesta perspectiva, são tão boas ou por vezes até melhores do que as outras partes da organização. Não nos importa quão trivial um carácter possa ser - seja a mera inflexão do ângulo da maxila, a maneira como se dobra a asa de um insecto, se a pele é coberta de pêlo ou penas -, se prevalece em muitas espécies diferentes, especialmente as que têm hábitos de vida muito diferentes, adquire grande valor; pois só podemos explicar a sua presença em tantas formas, com tantos hábitos diferentes, pela hereditariedade a partir de um antecessor comum. Podemos errar a este respeito, no que se refere a pontos de estrutura isolados, mas quando diversos caracteres, por muito triviais que sejam, ocorrem conjuntamente num grupo vasto de seres com hábitos diferentes, podemos ter quase a certeza, segundo a teoria da descendência, de que estes caracteres foram herdados de um ancestral comum. E sabemos que tais caracteres correlacionados ou agregados têm um valor classificativo especial.

Podemos compreender por que razão uma espécie ou grupo de espécies se podem afastar, em muitas das suas características mais importantes, das espécies que lhe são próximas, e no entanto serem seguramente classificadas em conjunto com elas.